
Voltaram as chuvas do Recife
E com elas, as goteiras
Gotejam pelos ladrilhos
Pelos cantos das paredes
Nas telhas quebradas de velhice
No papelão roído,
Plástico, palha, caixote-cobertor
Mais água vai cair
Alagar ruas, quarteirões
Gente com frio, gente com fome
Sem casa
Sem chão
Só barco, sem peixe
Só lixo, sem prece
Que sustente as águas dos olhos
Barreiras sem vinco
Do Recife
Aterrado, lameado
descuidado
Quem dera
Se de longe soprasse um vento
E a chuva corresse lá pra dentro,
No meio do relampejo
Partindo daqui pra roça do sertanejo
Lá, mais o sol vai secar
Terra dura, rachada
encarnada,
Que só palma gosta de brotar
Água
dos olhos
Úmidos de tristeza
Amargurados com a natureza
De um Deus falso protetor
Que rima vida a
mau odor, rancor e dor