Thursday, March 27, 2008

Conclusão infravermelha



Do manque, magenta
Da palafita, pobreza
Cinza
Azul não real
Do marrom do
Capibaribe

foto de Gustavo Bettini, parte da exposição Inframargem, em cartaz na galeria Arte Plura (Rua da Moeda, Bairro do Recife - PE).

Wednesday, March 26, 2008

Síndrome de Xuxa

Já perceberam que ultimamente, no fim de uma ligação telefônica, todo mundo diz "tchau tchau"?


Oxe, que coisa mais chata!

Monday, March 24, 2008

Nada a declarar

Tentei, mas não saiu nada. Têm dias que é assim: muita coisa por dentro, mas nenhuma que vire palavra.















Hoje, fica a página em branco.

Wednesday, March 19, 2008

Na roda da vida



Não se pode entrar na roda destraído
Tem que ter mandinga, jogo de corpo
Mente elevada, ligada
Se marcar bobeira, leva pesada
Na testa, no bucho, no peito
Protejer como se fosse alma

Nessa roda da vida
Tem que usar esquiva
Desviar
Do que vem de baixo
Do que vem de cima

Se bater o medo
Canta e bate palma
E esquece o que tem de ruim
Brinca como se moleque fosse
Porque nessa roda
A ginga é assim

Ontem entrei distraída na roda. Levei um chute de raspão na testa. Foi bom para aprender que em qualquer roda a vida gira e há riscos de cair.


Monday, March 17, 2008

Sentimento que não se semeia

Hoje a chuva caiu na madrugada. Nas barreiras, próximas às comunidades, milhares de moitas de bredo crescem. Ninguém plantou, bredo nasce sozinho com os primeiros pingos do ano. Na próxima sexta, serão arrancados e comidos cozidos, com filé de merluza e feijão de coco. Como meus sentimentos, o bredo surge sem ser semeado. Dele, cresce uma florzinha rosa. Como o sentimento de outras pessoas, murcha assim que arrancado da terra. Bredo e sentimento precisam ir logo para panela, refogados e degustados com muito carinho.
Nem todo sentimento é igual e, como bredo, só aflora de vez em quando.

Saturday, March 15, 2008

Caranguejada da boa lembrança

Prometi a mim mesma que assim que maio entrar, vou preparar um caranguejada. Será o primeiro mês sem R e os bichinhos estarão mais gordinhos, esperando pelo caldeirão quente. Fiquei saudosa da Várzea, quando pelo ano de 1995 chegava na casa de um casal amigo-irmão com duas cordas compradas por uma pechincha na feira de Rio Doce. Abria uma cerveja, grudava o umbigo no tanque e depilava as patas dos bichanos. Uma barraqueira de primeira linha, que tempera o quitute com cebola, alho e coentro. Pouco sal para não estragar o pirão. Em duas horas, saía a caranguejada. Avançávamos como manda a regra: das patinhas menores para as patas maiores; depois a bunda e o corpinho. Havia negociação de troca de duas patolas pelo corpinho (porque uma só fica injusto). Isso quando não rolavam algumas discussões de propriedade em relação à bundinha do caranguejo.
No fim, restavam as carcaças. Todo mundo bebinho, com a boca rasgada e os dedos engilhados.

Para Jarboroso, Beto, Flá, Baba, Pio, Reguinbó, Brou, Mindi, Geyson, Ginga e outros que provaram daquelas tardes deliciosas à beira do Capibaribe.

Friday, March 07, 2008

Espinha e gaia

Ontem, um amigo me mostrou uma espinha enorme, bem no meio da testa. Na gréia, chamou o importuno calombo de gaia. Eu, que estava num dia inspirado de pensamentos inofensivos e, quem sabe medíocres, fiz a relação:

Espinha é que nem gaia:

1) É melhor não cutucar
2) Se cutucar, vai ficar doendo e corre o risco de inflamar
3) Mexer demais deixa cicatriz
4) Finja que não está vendo, mesmo que esteja na cara.
5)Deixe secar. Será menos dolorido.

Thursday, March 06, 2008

O tamanho do amor

"Mãe, meu coração é maior do que minha barriga", disse Tom, colocando as mãozinhas do lado esquerdo do peito.
No ato, perguntei: "Por que, meu amor?"

resposta:
"Oras, mãe, porque eu gosto de vc!"

Saí de casa feliz da vida, com o coração maior do que o estômago.

Monday, March 03, 2008

Domingo de...

Varrer quintal bem cedinho.
Deitar na grama e ver passarinhos
que se escondem na moita de jasmim.
Fazer almoço e arrumar uma mesa bonita no terraço.
Tudo para a família. Três pratos, três copos, três amores.
Depois, de banho tomado, deitar em frente ao ventilador
e cochilar ouvindo a voz de brincadeiras da criança.
Acordar e bater um bolo de laranja
para amanhã acompanhar o café quente.
No jantar, três mistos quentes e leite gelado com nescau.
Aí a gente reza e dorme sem correr risco de pesadelos.

Sunday, March 02, 2008

Vem que passa teu sofrer...

Fui ao samba. Precisava mexer as pernas, o quadrio, cantar alto, levantar as mãos como se passasse pela Sapucaí. Passei pasta d´água entre as pernas. Suor e coxas grossas arrebatam assaduras. Joguei na couraça minissaia; na orelha direita, brinco de pena. Passei batom vermelho. Porque Ritinha diz que com batom vermelho fico bonita. Sola, peguei o carro e fui mimbora. Lisa até dizer basta, liguei na cara dura para assessora de imprensa que colocou meu nome na portaria. Na piriquita, escondi uma garrafinha d´O Professor. Arregava gelo e... perfeito... sambei, sambei e sambei.

Já exausta de tanto sambar, fui ao encontro daquela galega linda, que diz que minha boca fica massa quando encarna. Ritinha tem alma de anjo - além da cara. É amiga daquelas que nos diz o que vc precisa ouvir e não alisa, fala verdades. Vejo nos olhos dela amor por mim. Sabe quando a gente sabe que a pessoa te ama, de graça, sem nada querer em troca, simplesmente te ama? Recíproca de coração, de corpo e veia. João, meu irmão que fazia parte dos meus sonhos quando era criança, chega à mesa e me sinto envolvida de família. Amo muito aqueles dois, tanto que sou capaz de parar o mundo para fazer batatinhas calabresa só para eles.

Deixamos João sentado, ao lado de um meio Lula P., que já caía pelas tabelas, entretido com seu celular que, modernamente, passava um clipe de Elvis Presley... touch me, baby... Bateu a larica e fomos ao podrão. Se andava sem energia, Ritinha, com suas palavras lindas, me religou na tomada. Hoje acordei mais feliz, com a sensação de que existe amor por perto.

Quando estávamos saindo do podrão, ela disse: "Olha Tita!". E eu: "Onde?" Alí, no outdoor. Foi lindo ver Tita no outdoor, esquina da Amélia com Rui Barbosa. Uma outra amiga que, apesar de nos vermos pouco, sei que tb me ama, de graça, sem querer nada em troca. Fiquei mais forte ainda, como se aquela imagem de Tita, linda, maquiada, cabelo escovado no outdoor, fosse uma luz divina. Cheguei em casa contente. Meus amores já dormiam. Os beijei, deitei tranquila e repousei, como a tempos não fazia.

Saturday, March 01, 2008

Quando a gente rodopia em torno de si mesmo

Ontem fui andar. Andei, andei e andei. Meio que sem rumo, sem dinheiro e celular. Porque queria rodopiar e não ser atrapalhada por nenhum larápio. Cheguei ao Torreão, arrodiei por Campo Grande, passei pela Encruzilhada e cheguei de volta ao Espinheiro. Na frente do portão de casa chorei, como se aquele suor da caminhada fosse lágrimas de todo o meu corpo. Precisava colocar para fora uma agonia. Pensei que deveria andar mais. Senti desejo dos braços do meu pai. Achei melhor pegar o carro, afinal, Olinda não é logo ali. Bati na porta do velho e me senti uma criança de cinco anos. Pulei em seu pescoço e me abracei por quase meia hora. A mão do meu pai é pesada e alisava minha cabeça. Senti sua aflição, porque quando um filho chora, a gente chora também. Saí de lá mais linda, mais pura, mais feliz, na certeza de que meu pai está aqui ainda nesse lugar que me faz tão bem.