Tuesday, June 27, 2006

A espera



Olha o relógio minuto a minuto
Cria delírio do que jamais poderá acontecer
Te coloca de frente para o nada

Cansa o corpo
Exausta o coração

Prefere ficar acordada
Observando o tempo
Em passos lentos
O dia, a noite
Madrugada tua
De poemas sem versos

Wednesday, June 21, 2006

Corredor

Passou e não olhou
Passou de novo e só deixou rastro
Sem bom dia, sem beijo ou afago

Vou passar e vou olhar
Inventar algo para ficar passando
O dia todo
Até dizer boa noite, dar beijos
E dormir em cima do seu braço

Tuesday, June 20, 2006

Desolado




Hoje não tem futebol

Não tem samba

Tá tudo acabado

Vai dormir desolado

Sem o canto da menina

Com o choro do cavaco

Na Ilha

O tempo está parado logo na frente do portão
Ao passá-lo, as mesmas flores pelo caminho
Os mesmo cheiros, os mesmos sons

Na sala as cortinas brancas rendadas
E os sofás ganharam novo modelo,
Mas permanecem marrons e em posições idênticas

O chão de tacos limpos
O abajur de pé dourado
Os troféus sobre a estante
A parede amarelo-claro do banheiro
De água sempre quente e pouca

O sabor do feijão ao alho e cebola
O arroz branco requentado
Salada de tomate e pepino no vinagre
Legumes na água e sal

A copa é azul-lilás
Lugar de conversas breves
Escolho um prato fundo
Descasco laranja lima
Que aguoa a boca após cada refeição

À mesa, as pessoas se esvaem
Na cabeceira da minha direita
O cenário mudou
O dono da casa já não está mais ali

No jantar, repete-se o almoço
Ela junta o resto do prato
Requenta e leva ao cachorro
Que corre solto sobre o piso de mosaicos
Amarelo, branco e vermelho do quintal

As plantinhas ainda são bem verdinhas
E as aranhas continuam a cavar suas casas na terra
Se criança fosse, puxaria uma a uma
Com cuspe no capim

A noite cai
A televisão se acende para a novela
Chega o primeiro parente, o segundo
Mais tarde, o terceiro
Vão embora

Vovó pega uma fruta de conde
Degusta caroço a caroço
Lava os dentes, guarda-os
E recolhe-se ao leito até o primeiro
Iluminar da manhã

Recomeço que um dia termina.

Friday, June 02, 2006

se...

E se eu ficar sentada?

O tempo vai passar devagar
Minhas pernas não vão andar
Meu caminhar continuará no pensamento

E se eu disser tudo que penso?

Posso chocar
Posso calar
Posso chorar
E posso ainda ganhar um beijo

E se desse beijo não quiser mais largar?

Aí fico no abraço
Sorriso grudado
Olhos nos olhos
Coração aos pulos

E se o coração parar de bater?

Morro e deixo os pedaços
De um amor verdadeiro
Que aconteceu por inteiro
Nas entrelinhas do desejo