Tuesday, June 20, 2006

Na Ilha

O tempo está parado logo na frente do portão
Ao passá-lo, as mesmas flores pelo caminho
Os mesmo cheiros, os mesmos sons

Na sala as cortinas brancas rendadas
E os sofás ganharam novo modelo,
Mas permanecem marrons e em posições idênticas

O chão de tacos limpos
O abajur de pé dourado
Os troféus sobre a estante
A parede amarelo-claro do banheiro
De água sempre quente e pouca

O sabor do feijão ao alho e cebola
O arroz branco requentado
Salada de tomate e pepino no vinagre
Legumes na água e sal

A copa é azul-lilás
Lugar de conversas breves
Escolho um prato fundo
Descasco laranja lima
Que aguoa a boca após cada refeição

À mesa, as pessoas se esvaem
Na cabeceira da minha direita
O cenário mudou
O dono da casa já não está mais ali

No jantar, repete-se o almoço
Ela junta o resto do prato
Requenta e leva ao cachorro
Que corre solto sobre o piso de mosaicos
Amarelo, branco e vermelho do quintal

As plantinhas ainda são bem verdinhas
E as aranhas continuam a cavar suas casas na terra
Se criança fosse, puxaria uma a uma
Com cuspe no capim

A noite cai
A televisão se acende para a novela
Chega o primeiro parente, o segundo
Mais tarde, o terceiro
Vão embora

Vovó pega uma fruta de conde
Degusta caroço a caroço
Lava os dentes, guarda-os
E recolhe-se ao leito até o primeiro
Iluminar da manhã

Recomeço que um dia termina.

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