O tempo está parado logo na frente do portão Ao passá-lo, as mesmas flores pelo caminho Os mesmo cheiros, os mesmos sons
Na sala as cortinas brancas rendadas E os sofás ganharam novo modelo, Mas permanecem marrons e em posições idênticas
O chão de tacos limpos O abajur de pé dourado Os troféus sobre a estante A parede amarelo-claro do banheiro De água sempre quente e pouca
O sabor do feijão ao alho e cebola O arroz branco requentado Salada de tomate e pepino no vinagre Legumes na água e sal
A copa é azul-lilás Lugar de conversas breves Escolho um prato fundo Descasco laranja lima Que aguoa a boca após cada refeição
À mesa, as pessoas se esvaem Na cabeceira da minha direita O cenário mudou O dono da casa já não está mais ali
No jantar, repete-se o almoço Ela junta o resto do prato Requenta e leva ao cachorro Que corre solto sobre o piso de mosaicos Amarelo, branco e vermelho do quintal
As plantinhas ainda são bem verdinhas E as aranhas continuam a cavar suas casas na terra Se criança fosse, puxaria uma a uma Com cuspe no capim
A noite cai A televisão se acende para a novela Chega o primeiro parente, o segundo Mais tarde, o terceiro Vão embora
Vovó pega uma fruta de conde Degusta caroço a caroço Lava os dentes, guarda-os E recolhe-se ao leito até o primeiro Iluminar da manhã