Tuesday, December 25, 2007

Filho de caranguejo, xié

Há uma legião de xiés. Para quem não sabe, quem não colocou o pé na lama da praia aterrada de Rio Doce na década de 90, xié é um caranguejo miúdo, do tamanho de uma unha. Não se come. Engraçado é que a patola do bichinho macho é maior que o corpinho. Cheguei a achar, na meninice, que o xié era o filho do caranguejo. Não é. Não na natureza. Já aqui por cima, na civilização que caminha pelo asfalto do Recife, dá para identificar facilmente os “xiés com cérebro”. E um deles, conheço bem de pertinho, desde que nasceu. Chama-se Luca.
A última sexta-feira, dia 21 de dezembro, foi um dia de virada na vida desse menino-xié, de apenas quatro anos. Ele viu, pela primeira vez, a Nação Zumbi no palco. Uma noite especial para o selecionado público de no máximo 1.500 pessoas do Nascedouro de Peixinhos, periferia do Recife/Olinda. O local, berço de criações contemporâneas onde "o de baixo desce”, foi o lugar escolhido pela Nação para lançar o 7º disco.
E Luca estava lá. Olhos arregalados, fala engasgada, boquiaberto. Atento às luzes, ao som. Sabia de cada passo, cada letra, cada acorde. Porque em quatro anos, os discos, DVDs da banda, a TV e a alfaia foram seus grandes companheiros. Horas e horas à frente da imagem, imitando movimentos, captando sonoridades. Para celebrar a alegria, ganhou de Du Peixe o chapéu que simbolizava no palco a presença de Chico. Não conseguiu nem agradecer. Paralisou. Saiu do show mudo. Não comentou nada. Nem com o pai e nem com a mãe. Achou que era sonho.



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Geração de xiés privilegiada. Que já nasce sabendo das finuras das tecnologias aliadas ao baque virado. Que tem a oportunidade de estar perto da melhor banda que surgiu nos últimos 20 anos no país. Xiés, filhos de caranguejos. Não dá para não crer nas coisas boas que virão pela frente.

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No dia seguinte, sábado, o Marco Zero estava lotado, como em terça de carnaval. A Nação mostrou Fome de tudo. Dois dias consecutivos de som em peso. Cenas memoráveis.
Luca não foi. Era muito ruge-ruge para um pequeno xié. Ele aguarda a hora, sem pressa.

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foto: beto figueiroa

1 comment:

Vanessa Bahé said...

realização do filho e....com certeza dos pais...
ver luca cantando todos os dias as músicas do Nação, pedindo pra colocar o CD novo quando anda no carro cantando todas as músicas novas....ninguém acredita....aperreando pra tocar alfaia vendo o DVD da banda todo dia quando às vezes já passa das 10h da noite....
foi prazeroso vê-lo assistir ao show dos ídolos assim com tão pouca idade....sim...e um único comentário feito: quando saímos do nascedouro e luca entrou no carro, disse: to parecendo Luca Lúcio Maia....kkkkk...rimos todos.
Adorei a homenagem...obrigada flor por fazer parte desses momentos. Te amo!